Como uma catedral e um bazar te farão entender o que é design colaborativo?

13:05 Yahz 0 Comments


O design colaborativo é a prática de desenhar com outros e implica a criação de produtos em conjunto com as pessoas que os usarão. Em um nível fundamental, o design colaborativo contesta a lógica econômica liderada pelo crescimento presente na maioria das atuais atividades de design e oferece uma alternativa com base em imperativos diferentes - mais democracia, mais autonomia e menos dominação -, por meio de práticas como inclusão, processos cooperativos e ação participativa. Sua premissa é a de que aqueles que usam um produto têm o direito de opinar sobre sua criação e de que quando as partes interessadas e seus interesses modelam o processo de design e contribuem, para este, o design ganha qualidade.

Durante a última década, esteve em alta a prática de criar juntamente com os usuários, em vez de criar para eles, sem dúvida influenciada pelo crescente interesse nas dimensões sociais e políticas do design e também, por exemplo, pelo papel da internet, que oferece novas oportunidades de design. O potencial político e social do design colaborativo deriva de sua influência sobre quem tem poder na sociedade, quem controla o conhecimento e quem toma decisões. Algumas iniciativas de design colaborativo apoiadas na internet, como software Linux e a enciclopédia on-line Wikipedia, exemplificam esse conjunto de relações modificadas. Essas iniciativas, criadas por uma rede amplamente distribuída de criadores-usuários voluntários, disponibilizam para todos o conhecimento contido no produto. As pessoas envolvidas compartilham o trabalho e também os benefícios.



O objetivo do design colaborativo, “reduzir ao máximo os mecanismos hierárquicos e compartilhar práticas entre uma multiplicidade de participantes em termos tão igualitários quanto possível”, perturba muitíssimo as hierarquias tradicionais da moda, em que se confere mais poder àqueles que estão no topo. Os designers da elite, os grandes varejistas e as marcas globais consolidam e até fortalecem suas posições, ao proteger seus conceitos e produtos. “Autores” seletos detém o conhecimento em um sistema secreto, fechado para os de fora. A informação flui unicamente de cima para baixo na hierarquia, conforme as decisões sobre o propósito do design, o acabamento, o tecido e o custo são comunicadas aos produtores, às cadeias de fornecimento e aos consumidores. Ao manter a segurança e a exclusividade do sistema de conhecimento, a elite dominante da moda retém poder e dinheiro. Pois, sem acesso ao conhecimento e às habilidades requeridas, tanto nos aspectos materiais quanto simbólicos da moda, os usuários são incapazes de fazer moda por si mesmos.



O co-designer Otto Von Busch, de quem falamos aqui, evoca a metáfora de “catedral e bazar”, usada pela primeira vez pelo pioneiro em código aberto on-line Eric S. Raymond, para comparar as diferentes organizações sociais da moda tradicional e da colaborativa. O modelo hierárquico, estratificado e fechado da moda é a catedral, “onde cadeias estritas de comando constituem a própria estrutura”. O bazar, ao contrário, é a moda do design colaborativo, “uma feira movimentada em que todos falam ao mesmo tempo. É caótica e ao mesmo tempo organizada, como um mercado de rua ou um formigueiro”. A organização do tipo bazar (ou design colaborativo) é horizontal, ou heterárquica, e todos os elementos estão associados em rede.

O texto acima foi extraído do livro Moda & Sustentabilidade - Design para mudança, de Kate Fletcher e Lynda Grose, que é resultado de 40 anos de pesquisas sobre sustentabilidade. O livro lançado em 2012 continua sendo referência em estudos sobre moda.


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